No meio do caminho tinha uma pedra, ou seria uma vírgula, um travessão, um ponto final? Vamos analisar?

Por Sonia Cunha

Mulher, negra, servidora pública, Mestre em Letras com ênfase em Análise de Discursos pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus de Porto Nacional

 

Hoje trago para vocês uma temática considerada relevante, mas silenciada por muitos; até por que, nos dias atuais as pessoas preocupam-se em dizer algo e serem mal interpretadas. Falo precisamente da língua portuguesa como uma ferramenta indispensável no ambiente de trabalho. E não estou me referendo a cargos ou tipos de profissões específicas, mas desde a empregada doméstica que precisa fazer a lista de compras, anotar ou deixar um recado para a patroa, o comerciante, o caixa de supermercado, o servidor público, dentre tantas outras profissões. Trago o assunto de uma maneira geral.

Observe que a todo o momento tropeçamos em alguma dúvida sobre o uso da língua – seja numa concordância verbal, nominal, ortografia ou acentuação. Atrevo-me a lançar a hipótese de preocuparmos com o efeito de sentido que a escolha das palavras, utilizadas em nossos textos podem produzir em quem a eles tiverem acesso. Considero, inclusive, uma preocupação necessária.

Embora ninguém te diga, o modo como você se expressa seja pela fala ou pela escrita são julgados da mesma forma que, a roupa que você veste, a cor do cabelo, das unhas, as tatuagens, o perfume (inclusive a falta dele), ou seja, o uso da língua portuguesa está entrelaçado com a sua identidade, tanto é que: empresas de recrutamento selecionam os candidatos a vaga de emprego desde a escrita do próprio currículo. A exemplo dessa conduta, a empresa brasileira de recrutamento Catho realizou uma pesquisa para descobri o motivo dos candidatos não avançarem nas etapas seletiva e apontam que de 30 a 50 currículos apenas 5 a 10 passam para a etapa de seleção. Esse baixo percentual justifica-se pela falta de competência linguística dos concorrentes.

Em termos práticos, essas empresas utilizam a escrita como uma forma de avaliar o raciocínio do candidato, assim como, seus conhecimentos de mundo, domínios de uma comunicação clara, coerente e objetiva. Analise você o momento em que vai a um estabelecimento comercial e logo observa o modo como o funcionário realiza a venda, as estratégias linguísticas usadas, o sorriso no rosto (comunicação não-verbal) … agora imagine ao contrário e tire suas conclusões.

Você pode discordar de tudo que leu até aqui, mas assim como eu, você também analisa a pessoa que usa gírias no ambiente de trabalho ou fala palavrões, ou fala gritando, ou fala muito alto, ou é grosseira, ou uso termos obscenos. Certa vez ouvi um trocadilho em tom de piada – há quem tenha sagacidade para dizer o que pensa sorrido – essa pessoa disse: “o jeito que você usa Português é semelhante ao amigo que tem cecê, todo mundo sente, mas ninguém tem coragem de falar”.

Dito de outro modo, o linguista brasileiro José Fiorin nos ensina que a língua portuguesa nos organiza em sociedade, ou seja, ela está por toda a parte. Por todos os lados estamos com um papel do lado. Basta você observar o quanto as pessoas analfabetas tem dificuldade de acessar os serviços públicos, a começar pela máquina que emite a senha, por exemplo.

Ressalto que meu objetivo aqui não é privilegiar esse ou aquele modo de falar, mas sim lançar luz sobre a importância da língua portuguesa como a nossa língua oficial, tendo consciência das variações linguísticas de um pais repleto de particularidades linguísticas e também, de que ainda há muito o que se avançar quando o assunto é a alfabetização para os excluídos do sistema educacional formal e para os incluídos ao sistema educacional, porém, não possuem aprendizagem (conversa longa para outra hora).

Para tanto, objetivo central destas linhas é ratificar que aprendermos a usar a língua portuguesa com suas nuances adequadas ao contexto em que se está inserido abre portas e caminhos, pois caso você queira ser lembrado, basta se comunicar de maneira inadequada. Vale muito investir na melhoria da escrita; isso não significa que ela seja rebuscada ou complexa, mas sim, objetiva, clara e coerente. Não se esqueça: melhorar suas habilidades comunicativas mudará a maneira como os outros te veem.

Termino aqui torcendo para que você invista em você.

 

Abraços,

 

Sonia Cunha

Mulher, negra, servidora pública, Mestre em Letras com ênfase em Análise de Discursos pela Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus de Porto Nacional

Instagram: @eusoniacunha

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