O fator idade pode ser interpretado como uma questão de gênero?

Neste mês e março de 2023, o “mês” das Mulheres, apresento-me a vocês como uma mulher negra e de meia idade que tem repensando muito sobre o papel da mulher em envelhecimento na sociedade. No mesmo instante em que me aproximo dessa realidade, me faço nela presente, me distancio para poder compreendê-la sob outras perspectivas e tecer algumas linhas sobre o assunto. Adianto que a pretensão de minha escrita é ser compreendida. Aqui, não tenho um compromisso acadêmico, mas como uma irmã, prima, amiga, servidora pública, estudante; vivo entrelaçada numa realidade muito comum: a de mulheres que precisam trabalhar para sustentar a si e os seus.

Nesse contexto, direciono meu olhar às mulheres de meia-idade. Sim, mulheres a partir dos 35 anos. Mulheres que por um lado possuem o conhecimento e a maturidade ao seu favor e, por outro, numa “briga” constante entre os hormônios e a saga do corpo em pleno vigor físico, trabalham arduamente para se manterem no mercado de trabalho, pelejando para conciliar as responsabilidades como mãe, dona de casa, dentre tantos outros serviços não remunerados (aqueles que todos nós precisamos, mas não queremos pagar por eles).

Mulheres que procuram manter o belo, o bom-humor, a empatia, tudo! Sempre tudo imposto pela sociedade imagética em que vivemos, sempre pretenciosa e exigente na maneira como devemos ser, agir (e isso inclui, até o jeito e o tom em que se deve sorrir). Outrora me peguei pensando: podemos interpretar a idade como uma questão de gênero? Melhor dizendo: homens e mulheres envelhecem à mesma maneira?

Segundo os dados do IBGE (2021), a população na faixa etária dos 30 anos ou menos idade diminui, enquanto a de 30 anos ou mais aumentou 55,5% em 2020 e 56,1% em 2021- estimativas maiores que a de 2012 (50,1%). Em 2021, os grupos de 30 a 39 anos, correspondiam a 16,1% da população residente. Já os grupos de 40 a 49 anos, 14,0%; de 50 a 59 anos, 11,4% e 60 anos ou mais, 14,7%. A parcela de pessoas com 65 anos ou mais de idade representava 10,2% da população.

Trouxe esses dados para ilustrar uma questão que não está nos números. Defendo a tese que as mulheres envelhecem de maneira distinta dos homens, inclusive se essas mulheres ainda forem pobres. Comumente, enquanto ouvimos os homens serem chamados de “grisalho charmoso”, às mulheres é dito: “o que é que ela faz que não pinta esse cabelo branco?” Se um homem pratica atividade física, é o “tiozão marombeiro”, se for a mulher “tá achando que o tempo não castiga”.

Outro fato que as estatísticas não pontuam é solidão que muitas mulheres em envelhecimento vivem. Para que muitos saibam, muitas mulheres em envelhecimento são silenciadas pelos próprios familiares. Sim! Muitos filhos as colocam num quartinho dos fundos. Muitas delas são tratadas como uma pedra no caminho. Ah, mas tem a aposentadoria dela, temos que aturá-la. Sim, muitos filhos e filhas apoderam-se do dinheiro de suas mães para sustentarem que seria responsabilidade sua. Essas mulheres não tem voz. Algumas se limitam a conversarem com os animais e as plantas. Vivem numa solidão acompanhada.

Por outro lado, há mulheres que vivem numa solitude, isto é, uma escolha pessoal para manter-se feliz. Aquele momento em que você diz: agora eu posso fazer isso na viuvez pois, enquanto casada, os filhos e o marido me consumiam por inteiro. Hoje, posso viajar, dançar, tomar um vinho, dentre tantas outras possibilidades; há uma parcela social de mulheres que tem a condição, principalmente financeira para arcar com esse estado de espírito. Outras mulheres, nem tanto; outras de jeito algum, vivem no esquecimento.

Assim, para não me prolongar, despeço-me com uma pergunta a você que está lendo essas linhas até aqui: você vive em solidão ou em solitude?

Por: Sônia Cunha

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